O mundo da inteligência artificial está em constante evolução, e um dos avanços mais promissores para o desenvolvimento de agentes autônomos é o Reinforcement Learning (RL) ou Aprendizado por Reforço. Enquanto os grandes modelos de linguagem (LLMs) têm avançado rapidamente nos últimos anos, ainda enfrentamos desafios significativos para criar sistemas verdadeiramente autônomos. Este artigo explora como o RL pode ser o caminho para superar essas limitações e transformar a forma como desenvolvemos agentes de IA.
A diferença entre chatbots, raciocinadores e agentes autônomos
Para entender onde estamos e para onde vamos, é útil examinar a estrutura de cinco níveis proposta pela OpenAI para classificar os sistemas de IA:
- Chatbots – sistemas interativos para perguntas e respostas simples
- Raciocinadores – modelos capazes de pensamento mais profundo e resolução de problemas
- Agentes – sistemas que tomam ações e realizam tarefas complexas de forma mais autônoma
- Inovadores – sistemas capazes de criar novas soluções e ideias
- Organizações – sistemas integrados que operam como entidades complexas
Atualmente, temos feito progressos significativos nos níveis 1 e 2, com modelos como GPT-4, Claude, Gemini e Claude 3 Opus demonstrando excelentes capacidades de raciocínio. No entanto, a transição para o nível 3 – agentes verdadeiramente autônomos – tem sido desafiadora.
Agentes vs. Pipelines: Entendendo a diferença
É importante distinguir entre o que chamamos de “agentes” e o que são essencialmente “pipelines” (ou fluxos de trabalho):
Pipelines (Fluxos de Trabalho)
A maioria dos sistemas que chamamos de “agentes” hoje são na verdade pipelines com baixo grau de autonomia. Eles exigem:
- Engenharia significativa para determinar árvores de decisão
- Ciclos de feedback apertados com intervenção humana
- Retorno rápido ao usuário
Exemplos incluem IDEs como Cursor, Wind, Surf e Replit – ferramentas excelentes, mas que raramente operam de forma autônoma por mais de alguns minutos.
Verdadeiros Agentes
Por outro lado, sistemas como Devon, Operator e OpenAI Deep Research começam a demonstrar comportamento mais próximo de agentes autônomos genuínos, capazes de trabalhar por períodos mais longos com menos supervisão direta.
Na definição tradicional de reinforcement learning, um agente é uma entidade que interage com um ambiente visando um objetivo e aprende a melhorar seu desempenho ao longo do tempo através de interações repetidas.
Por que os modelos atuais não são suficientes
Muitos acreditam que basta esperar por “modelos melhores” para resolver nossas limitações atuais. No entanto, estamos observando sinais de que novos métodos são necessários:
- O pré-treinamento tradicional está mostrando retornos diminuídos
- O RLHF (Reinforcement Learning from Human Feedback) é ótimo para criar chatbots amigáveis, mas não necessariamente sistemas mais inteligentes
- Dados sintéticos ajudam a destilação de modelos, mas sozinhos não desbloqueiam capacidades radicalmente novas
É aqui que o Reinforcement Learning tradicional se destaca como uma solução promissora. Quando o DeepSeek lançou seu modelo R1 e revelou que utilizou principalmente técnicas de RL para desenvolver capacidades de raciocínio avançado, muitos pesquisadores perceberam que esta poderia ser a chave para o próximo salto em capacidades.
Como funciona o Reinforcement Learning para agentes de IA
O princípio fundamental do RL é simples e poderoso: explorar e explorar. O sistema:
- Tenta diferentes abordagens para resolver um problema
- Recebe recompensas com base no desempenho
- Aprende a fazer mais do que funciona e menos do que não funciona
Um exemplo claro é o algoritmo GRPO (Guided Reinforcement with Preference Optimization) usado pelo DeepSeek. O processo é surpreendentemente direto:
- Para um prompt específico, o modelo gera várias completações
- Cada completação recebe uma pontuação
- O modelo é treinado para produzir mais conteúdo semelhante às completações com pontuações mais altas
O fascinante é que comportamentos complexos, como longas cadeias de raciocínio, emergem naturalmente deste processo. Os modelos não são explicitamente programados para raciocinar em etapas – eles aprendem que esta é uma estratégia eficaz para maximizar a recompensa.
O conceito de “Engenharia de Rubricas”
Um conceito crucial para utilizar RL efetivamente é o que podemos chamar de “engenharia de rubricas” – análogo à engenharia de prompts, mas focado em definir sistemas de recompensas eficazes.
A engenharia de rubricas envolve a criação de regras para pontuação que vão além do simples “certo ou errado”. Por exemplo:
- Pontos para seguir uma estrutura XML específica
- Bônus por adotar formatos corretos (mesmo quando a resposta final é incorreta)
- Recompensas por demonstrar passos intermediários de raciocínio
Este tipo de feedback granular permite que o modelo aprenda não apenas a resposta correta, mas também como chegar à resposta correta de maneira estruturada e reproduzível.
Cuidados com o “Reward Hacking”
Um desafio importante nesse processo é evitar o “reward hacking” – quando o modelo encontra maneiras de maximizar a recompensa sem realmente aprender a tarefa pretendida. É essencial garantir que o sistema de recompensas realmente capture o objetivo final e não tenha “atalhos” que permitam ao modelo trapacear.
O futuro da engenharia de IA na era do RL
À medida que avançamos para uma era onde o Reinforcement Learning se torna mais central no desenvolvimento de agentes de IA, os engenheiros precisarão adaptar suas habilidades e ferramentas:
Novas competências necessárias
- Construção de ambientes de simulação para treinamento
- Design de sistemas de recompensa eficazes
- Monitoramento e prevenção de reward hacking
- Integração de modelos de linguagem como juízes de qualidade
É importante notar que muitas das habilidades que os engenheiros de IA desenvolveram nos últimos anos continuarão valiosas. A criação de ambientes e rubricas não é tão diferente da criação de avaliações e prompts. As ferramentas de monitoramento ainda serão essenciais, assim como todo o ecossistema de empresas, plataformas e produtos que apoiam os agentes que queremos construir.
Ferramentas e infraestrutura emergentes
Com o crescente interesse em RL para agentes, novas ferramentas estão surgindo para facilitar este trabalho:
- Frameworks para RL em ambientes multi-etapas
- Ferramentas para automatizar a engenharia de rubricas
- Sistemas que integram modelos de linguagem como juízes de qualidade
- Plataformas de fine-tuning específicas para RL
A comunidade open-source tem sido particularmente ativa neste espaço, com projetos simples de implementação de GRPO ganhando tração significativa nas redes sociais e inspirando adaptações e melhorias.
Aproveite o potencial do Reinforcement Learning hoje
O Reinforcement Learning representa uma fronteira empolgante para o desenvolvimento de agentes de IA mais capazes e autônomos. Embora ainda estejamos nos estágios iniciais desta jornada, já vemos resultados promissores em sistemas como o DeepSeek R1 e o OpenAI Deep Research.
Para engenheiros de IA, este é o momento perfeito para começar a experimentar com técnicas de RL, familiarizar-se com os conceitos fundamentais e participar da comunidade que está definindo as melhores práticas neste espaço.
O caminho para verdadeiros agentes autônomos pode passar pelo Reinforcement Learning, e aqueles que dominarem estas técnicas estarão na vanguarda da próxima revolução em inteligência artificial. Não espere para entrar nessa jornada – comece a explorar o potencial do RL para seus projetos de agentes hoje mesmo!
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