A inteligência artificial avança rapidamente e o ChatGPT tem capturado a atenção de todos os setores, incluindo a área da saúde. Como farmacêutico com sete anos de experiência, decidi investigar uma questão que tem gerado debates acalorados: o ChatGPT pode realmente substituir o conhecimento especializado de um farmacêutico? Neste artigo, compartilho os resultados de um teste prático onde submeti o ChatGPT a perguntas farmacêuticas específicas para avaliar sua precisão e confiabilidade.
Testando os Limites da IA na Farmácia
Para este experimento, formulei perguntas específicas que qualquer farmacêutico deve saber responder corretamente. O objetivo era verificar se a IA possui o conhecimento especializado necessário para fornecer orientações farmacêuticas seguras e precisas.
Medicamentos para Crianças: O Primeiro Teste
Minha primeira pergunta foi direta: “A doxiciclina é adequada para uma criança de nove anos?”. A resposta deveria ser um claro “não”. O ChatGPT respondeu rapidamente que, como modelo de linguagem de IA, não estava qualificado para fornecer aconselhamento médico – uma abordagem cautelosa e responsável.
Reformulei a pergunta para: “Para qual idade a doxiciclina é adequada para prescrição?”. O ChatGPT explicou que a doxiciclina é um antibiótico usado para várias infecções bacterianas e que a idade para prescrição depende de fatores como condição médica, peso e histórico do paciente. Afirmou que geralmente não é prescrita para pacientes com menos de oito anos, mas que no Reino Unido o limite é de 12 anos.
Isso levantou uma questão interessante: o limite de oito anos mencionado parecia ser de outro país (possivelmente dos EUA), enquanto o ChatGPT corretamente identificou que no Reino Unido o limite mínimo é de 12 anos. Esta resposta mostrou que a IA possui conhecimento de diretrizes específicas por país, mas misturou informações de diferentes regiões sem esclarecer inicialmente a distinção.
Prescrições para Condições Complexas
Avançando para casos mais complexos, perguntei: “O que devo prescrever para otite externa necrosante?”. O ChatGPT respondeu que o antibiótico de escolha geralmente é ciprofloxacino, administrado por via oral ou intravenosa, e mencionou outras opções como piperacilina-tazobactam.
Como farmacêutico, notei que embora as opções mencionadas estivessem corretas, havia nuances importantes na prática clínica real. No Reino Unido, por exemplo, frequentemente utilizamos ceftazidima junto com ciprofloxacino seguindo as diretrizes locais, e não costumamos usar ciprofloxacino em monoterapia como primeira opção. A IA forneceu informações tecnicamente corretas, mas sem as nuances que um profissional experiente consideraria.
Testando Conhecimentos sobre Alergias e Medicamentos
Perguntei: “Co-amoxiclav é adequado para um paciente com alergia à penicilina?”. O ChatGPT corretamente identificou que co-amoxiclav é uma combinação de amoxicilina e ácido clavulânico, e que pacientes com histórico de alergias a penicilinas ou outros antibióticos beta-lactâmicos não deveriam tomar co-amoxiclav. Esta resposta foi precisa e potencialmente vital para a segurança do paciente.
Conhecimento sobre Resistência Antimicrobiana
Um aspecto crucial da prática farmacêutica moderna é o conhecimento sobre resistência antimicrobiana. Perguntei: “Trimetoprima seria o tratamento de primeira linha para uma ITU baixa no Reino Unido?”
O ChatGPT respondeu que trimetoprima é um dos antibióticos de primeira linha recomendados para o tratamento de ITUs baixas em mulheres não grávidas no Reino Unido, citando que as diretrizes NICE o recomendam como primeira linha. Mencionou também outras opções como nitrofurantoína, fosfomicina e pivmecilinam.
A resposta, embora tecnicamente correta, omitiu uma informação crucial: os padrões de resistência à trimetoprima, especialmente em infecções por E. coli, são significativamente altos no Reino Unido, o que tem levado à redução de seu uso como primeira linha. A IA fez uma menção genérica sobre considerar padrões de resistência na comunidade local, mas não destacou especificamente o problema com a trimetoprima, uma consideração fundamental na prática clínica atual.
Aconselhamento para Problemas Comuns
Para avaliar o aconselhamento sobre condições mais comuns que os pacientes frequentemente tratam sem receita médica, perguntei sobre o tratamento do pé de atleta.
O ChatGPT forneceu uma descrição correta do pé de atleta como uma infecção fúngica comum entre os dedos dos pés e nas solas dos pés. Diferenciou entre casos leves, que podem ser tratados com medicamentos antifúngicos tópicos, e casos graves, que podem exigir antifúngicos orais. Mencionou que os produtos poderiam conter clotrimazol, miconazol ou terbinafina, e que os medicamentos podem levar várias semanas para fazer efeito.
Quando solicitei recomendações específicas para cremes, o ChatGPT manteve-se bastante genérico, fornecendo marcas para diferentes opções sem recomendar um produto específico. Esta abordagem cautelosa é apropriada, mas destaca a limitação da IA em fornecer aconselhamento personalizado, que é uma parte essencial do papel do farmacêutico.
O Valor do Conhecimento Especializado do Farmacêutico
Após este teste abrangente, ficou claro que o ChatGPT possui um conhecimento impressionante de informações farmacêuticas básicas. No entanto, as limitações se tornaram evidentes quando se tratava de:
- Nuances da prática clínica real
- Conhecimento atualizado sobre resistência antimicrobiana
- Personalização de conselhos para situações específicas
- Compreensão aprofundada das diretrizes locais e suas aplicações práticas
Estas áreas de expertise são precisamente onde os farmacêuticos humanos se destacam. Nosso conhecimento não é apenas baseado em informações memorizadas, mas também em experiência clínica, julgamento profissional e capacidade de avaliar cada situação individualmente.
O Papel da IA no Futuro da Farmácia
O ChatGPT demonstrou potencial como ferramenta de suporte para questões farmacêuticas básicas, mas suas limitações revelam que a IA ainda está longe de substituir completamente os farmacêuticos. Em vez disso, o futuro provavelmente envolverá uma abordagem colaborativa, onde:
- A IA auxilia na busca rápida de informações e verificações iniciais
- Farmacêuticos aplicam seu conhecimento especializado para interpretar, personalizar e validar essas informações
- A combinação de IA e expertise humana melhora a eficiência sem comprometer a segurança
Para os profissionais de farmácia, isso significa que desenvolver habilidades que vão além da simples informação factual – como pensamento crítico, comunicação interpessoal e raciocínio clínico – será ainda mais importante no futuro.
O Melhor dos Dois Mundos
A inteligência artificial como o ChatGPT tem potencial para transformar a prática farmacêutica, mas não para substituí-la. Os farmacêuticos continuarão sendo essenciais para garantir que os pacientes recebam o aconselhamento correto e personalizado de que precisam.
Se você é um profissional de saúde, considere explorar como a IA pode complementar sua prática, ao invés de substituí-la. Se você é um paciente, lembre-se que por trás de cada conselho farmacêutico há anos de formação, experiência e julgamento humano que nenhuma IA pode replicar completamente.
Quer saber mais sobre como a tecnologia está transformando a saúde? Entre em contato com um farmacêutico local para discutir como eles estão integrando novas ferramentas em sua prática diária, sempre mantendo sua saúde como prioridade máxima.
Perguntas Frequentes
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