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Vibe Coding e IA: Como a Nova Onda de Programação Pode Salvar (e Não Destruir) Empregos em Tecnologia

Em meio a tantos alarmismos sobre como a inteligência artificial vai revolucionar o mercado de trabalho em tecnologia, surge uma perspectiva contra-intuitiva: e se o “Vibe Coding” (programação assistida por IA usada por não-programadores) na verdade criar mais empregos para desenvolvedores profissionais? Neste artigo, vamos analisar criticamente o impacto real da IA na programação, os equívocos comuns sobre automação de código e como o cenário atual pode representar mais oportunidades do que ameaças para quem trabalha com desenvolvimento de software.

O Mito do “Programador Substituído”

Se você acompanha as notícias de tecnologia, provavelmente já se deparou com manchetes alarmistas como “IA escreve código melhor que 70% dos programadores” ou “O fim dos desenvolvedores junior está próximo”. Mas será que existe fundamento nessas afirmações?

A realidade é bem diferente. Os modelos de linguagem (LLMs) como o GPT, Claude e outros não conseguem escrever código melhor que a maioria dos humanos com conhecimento em programação. O que eles fazem bem é reproduzir padrões que aprenderam de códigos escritos por humanos, servindo mais como assistentes do que substitutos.

É importante lembrar que menos de 1% da humanidade sabe programar. Quando alguém afirma que IAs escrevem melhor código que “a maioria dos humanos”, isso não significa necessariamente que elas superem a maioria dos programadores profissionais.

A Guerra Tecnológica Global e Seus Impactos

O contexto atual também é marcado por tensões geopolíticas que afetam diretamente o setor de tecnologia. A guerra tarifária entre China e Estados Unidos, as multas bilionárias aplicadas pela União Europeia às Big Techs americanas (como a recente multa de 800 milhões de dólares para Apple e Meta) e os incentivos fiscais para empreendedores tecnológicos na Europa são fatores que estão “chacoalhando” o mercado de tecnologia.

Essas mudanças, combinadas com a adoção da inteligência artificial, estão criando um cenário complexo, mas que pode resultar em mais oportunidades do que ameaças para profissionais de tecnologia que souberem se adaptar.

Os Seis Estágios da Adoção da IA por Programadores

Um artigo recente circulando na comunidade tech propõe seis estágios pelos quais programadores passam ao adotar IA em seu trabalho:

  1. Negação: “IA não é boa o suficiente, isso é apenas hype”
  2. Experimentação: Começar a testar LLMs em tarefas simples
  3. Questionamento: “Será que meu emprego acabou?”
  4. Alerta: Começar a mudar prioridades
  5. Consumo: Incorporar ferramentas como Copilot e Cursor no dia a dia
  6. Engajamento: Programar junto com as LLMs, aproveitando suas capacidades

Embora essa progressão faça sentido para muitos, ela assume erroneamente que o destino final é uma relação simbiótica onde a IA faz grande parte do trabalho. A realidade mostra um cenário muito mais nuançado.

O Impacto da IA em Diferentes Níveis de Experiência

Desenvolvedores Júnior: A Zona de Perigo?

Tem-se falado muito sobre como desenvolvedores em início de carreira seriam os mais afetados pela IA. Em parte, isso faz sentido: quando você está aprendendo uma nova base de código e construindo um modelo mental de como tudo funciona, usar LLMs como atalho pode ser tentador.

Contudo, existe um risco real: se o desenvolvedor júnior apenas copia e cola código gerado por IA sem realmente entender o que está acontecendo, o aprimoramento de suas habilidades fundamentais fica comprometido. A IA pode ajudar a ler e entender código, mas não deve substituir o processo de aprendizado ativo.

Um verdadeiro desenvolvedor júnior deve usar a IA como ferramenta de aprendizado acelerado, não como muleta para evitar o entendimento profundo.

Desenvolvedores Plenos: Aceleração Com Limitações

Para desenvolvedores de nível intermediário que já construíram um bom modelo mental do código e navegam com confiança pela base de código, os LLMs oferecem ganhos significativos de produtividade. Eles podem entregar funcionalidades mais rapidamente, escrever menos código boilerplate e aprender novos frameworks com maior velocidade.

No entanto, mesmo esses profissionais já começam a encontrar limitações claras na IA: ela não consegue decifrar o que os clientes realmente querem de um ticket, não pode usar um depurador para identificar race conditions complexas, e oferece pouca ajuda quando você está respondendo a um alerta à meia-noite durante um plantão.

Desenvolvedores Sênior: O Ceticismo Justificado

Aqui é onde encontramos o maior ceticismo em relação às LLMs. Desenvolvedores sênior, que possuem um excelente modelo mental de toda a base de código e conhecem seus detalhes (muitas vezes por terem escrito parte considerável dela), percebem que a IA tem limitações significativas.

Quanto tempo um sênior realmente gasta escrevendo código? Relativamente pouco. Seu valor está em trabalhar no roadmap, mergulhar em bugs estranhos, e resolver problemas complexos – áreas onde a IA atual ainda não oferece ajuda substancial.

Como bem observado no artigo, “quanto mais técnico ou único for seu domínio, maior será a desilusão”. Desenvolvedores Android, por exemplo, reportam que a IA ajuda muito pouco em seu trabalho específico.

Como o “Vibe Coding” Pode Salvar Nossos Empregos

Aqui chegamos ao ponto mais interessante e contra-intuitivo: o “Vibe Coding” (termo usado para descrever não-programadores criando software com ajuda de IA) pode na verdade criar mais empregos para desenvolvedores profissionais.

Por quê? Pense desta forma: quanto mais código for escrito e colocado em produção por pessoas não técnicas, mais manutenção e refatoração serão necessárias. Como disse um conhecido desenvolvedor: “quanto mais pessoas não técnicas fizerem vibe coding, mais projetos vocês vão ter para dar manutenção e trabalhar em cima deles”.

Vemos evidências desse fenômeno nas recentes rodadas de investimento em empresas como Turintech (20 milhões de dólares para corrigir problemas de Vibe Coding) e Supabase (200 milhões com valuation de 2 bilhões de dólares, apenas 7 meses após seu último funding).

Em vez de reduzir a quantidade de código no mundo, a IA está fazendo com que mais pessoas escrevam mais código – e alguém precisará manter, otimizar e corrigir esse código.

O Verdadeiro Risco Para Empregos em Programação

O cenário que realmente poderia ameaçar empregos em programação seria um onde precisássemos escrever significativamente menos código. Imagine um futuro onde simplesmente conectamos uma IA a uma base de dados, ensinamos as regras de negócio e os usuários interagem diretamente com a IA sem necessidade de interfaces programadas.

Felizmente (para os empregos em tecnologia), não é nesse caminho que estamos indo. O caminho atual é usar a IA para gerar mais código, não para eliminá-lo – e mais código significa mais bugs, independentemente de ter sido escrito por humanos ou por IA.

Como lembrado no vídeo analisado: “A IA escreveu o que você escreveu, porque ela foi treinada com o que você escreveu.” Em outras palavras, as IAs são treinadas em código humano e refletem nossas próprias práticas, incluindo nossos problemas e limitações.

Dê o Próximo Passo Com Este Conhecimento

Em vez de temer a IA, devemos abraçá-la como uma ferramenta que pode nos tornar mais produtivos e criativos. Desenvolvedores que aprendem a trabalhar com a IA, não contra ela, estarão melhor posicionados no mercado de trabalho futuro.

Se você está no início da carreira, use a IA para aprender mais rápido, mas sempre busque entender profundamente o código que está trabalhando. Se já é um desenvolvedor experiente, aproveite a IA para automatizar tarefas repetitivas e focar no que realmente agrega valor: resolver problemas complexos que a IA ainda não consegue abordar.

Lembre-se: a tecnologia sempre evoluiu, e a cada nova onda surgiam previsões de que empregos seriam eliminados. O que aconteceu na prática foi uma transformação do mercado, com novos papéis surgindo e profissionais adaptáveis prosperando.

Quer se preparar para este futuro? Comece hoje mesmo a experimentar ferramentas de IA em seus projetos, entender seus limites e possibilidades, e desenvolver as habilidades que as máquinas ainda não dominam: pensamento crítico, criatividade e compreensão profunda de problemas humanos.

Perguntas Frequentes

A IA realmente programa melhor que 70% dos programadores humanos?
Essa afirmação é bastante questionável e carece de evidências científicas sólidas. Primeiro, precisamos definir o que significa “programar melhor” – seria escrever código mais rápido, com menos bugs, mais eficiente, mais legível, mais escalável ou mais seguro?

Quando figuras públicas ou investidores citam percentuais específicos (como 60-70%), geralmente não apresentam a metodologia usada para chegar a esse número. O que sabemos é que a IA atual é excelente em gerar código para tarefas comuns e bem estabelecidas, como criar uma API REST básica ou formatar dados, mas frequentemente falha em tarefas que exigem compreensão profunda do contexto, otimização avançada ou segurança.

Além disso, o código gerado por IA sempre reflete o código em que foi treinada – ou seja, código escrito por humanos. Se o código humano tiver problemas ou vulnerabilidades, a IA tenderá a reproduzir esses mesmos padrões.

Os desenvolvedores júnior serão os primeiros a perder seus empregos para a IA?
Embora esta seja uma preocupação comum, há vários fatores que sugerem que isso não acontecerá no curto e médio prazo. Primeiro, empresas precisam de desenvolvedores júnior não apenas pelo código que produzem, mas como parte de seu pipeline de talentos – eles são os futuros desenvolvedores sênior e líderes técnicos.

Segundo, a maioria das empresas entende que ferramentas de IA são assistentes, não substitutos. Um júnior que sabe usar IA efetivamente pode ser mais produtivo, mas ainda precisa aprender fundamentos, entender o contexto do negócio e desenvolver habilidades de colaboração que a IA não oferece.

Terceiro, com mais pessoas não-técnicas usando IA para escrever código (vibe coding), aumenta a necessidade de desenvolvedores profissionais para dar manutenção, refatorar e melhorar esse código. Isso pode criar mais demanda por desenvolvedores de todos os níveis, não menos.

O que é 'Vibe Coding' e por que ele poderia criar mais empregos?
“Vibe Coding” é um termo informal para descrever o fenômeno de pessoas sem treinamento formal em programação criando código com assistência de ferramentas de IA. Em vez de aprender sintaxe e conceitos de programação em profundidade, elas descrevem o que querem em linguagem natural e a IA gera o código correspondente.

Este fenômeno pode criar mais empregos para desenvolvedores profissionais por três razões principais. Primeiro, o código gerado por IA frequentemente precisa de revisão, otimização e manutenção por programadores experientes. Segundo, esse movimento democratiza a criação de software, levando a mais projetos e aplicações sendo desenvolvidos, o que aumenta a demanda geral por talentos em tecnologia.

Terceiro, à medida que mais código é colocado em produção, aumenta a necessidade de especialistas que possam lidar com a complexidade, escalabilidade, segurança e integração desses sistemas – problemas que a IA atual não resolve bem sozinha.

Qual é a melhor maneira de usar IA como desenvolvedor sem prejudicar meu crescimento profissional?
A chave é usar a IA como uma ferramenta de aprendizado e produtividade, não como um substituto para o desenvolvimento de habilidades fundamentais. Alguns princípios importantes a seguir:

Sempre revise e entenda o código gerado pela IA antes de incorporá-lo ao seu projeto. Questione por que a IA escolheu essa abordagem e considere alternativas. Use a IA para aprender, perguntando como resolver problemas e pedindo explicações sobre conceitos que não compreende completamente.

Concentre-se em desenvolver habilidades que a IA não domina: pensamento arquitetural, compreensão profunda de sistemas, identificação de trade-offs de design, comunicação com stakeholders e resolução criativa de problemas. Estas são as habilidades que continuarão valorizadas independentemente do avanço da IA.

Equilibre o uso da IA. Para tarefas repetitivas ou boilerplate, deixe a IA ajudar a aumentar sua produtividade. Para problemas complexos ou novos, tente resolver por conta própria primeiro, usando a IA apenas como validação ou para explorar abordagens alternativas.

As grandes empresas de tecnologia estão realmente fechando as portas para desenvolvedores júnior por causa da IA?
Existe uma tendência de redução na contratação de júniors em algumas grandes empresas de tecnologia, mas atribuir isso diretamente à IA seria uma simplificação excessiva. Vários fatores contribuem para essa situação:

Primeiro, o contexto macroeconômico: muitas empresas de tecnologia fizeram contratações excessivas durante o boom da pandemia e posteriormente realizaram cortes significativos. Em momentos de retração, posições júnior geralmente são mais afetadas, independentemente da tecnologia disponível.

Segundo, a maturidade do setor: à medida que o setor de tecnologia amadurece, algumas empresas priorizam desenvolvedores com experiência específica em vez de investir em treinamento de iniciantes.

Terceiro, mudanças no mercado: startups e empresas de médio porte continuam contratando desenvolvedores júnior em ritmo saudável, especialmente aqueles com conhecimentos em tecnologias emergentes como IA.

Para desenvolvedores iniciantes, a estratégia deve ser buscar empresas que ainda valorizam o desenvolvimento de talentos internos, focar em nichos específicos onde há demanda, e desenvolver habilidades complementares que aumentem seu valor além do código que produzem.

Assista ao vídeo original

Este artigo foi baseado no vídeo abaixo. Se preferir, você pode assistir ao conteúdo original: